Aqui fora, aqui dentro

edianepor Ediane Oliveira

Pensar no que Pelotas representa em sua cultura artística tão icônica, requer um exercício multidisciplinar. Pelotas grita e silencia. O tempo todo.

Sempre me questionei com a ideia de uma Pelotas tão tradicional em uma visão geral e predominante. Pelotas vai além. Nela, há um misto de vivências e peculiaridades capazes de tornarem uma teia quase infinita de pontos que a fazem, indubitavelmente, um bucolismo cultural, vivo, imagético, marginal, poético, e, repito: gritante e silencioso.

Pelotas, esse paradoxo entre o asfalto e o barro. Entre o canteiro e a valeta. Entre o salto-alto e o chinelo de dedo. Entre laquês e piolhos. Pelotas tem mármores com lustres brilhantes e muros, tão perto exclamando: “Estes grandes prédios foram levantados por mãos escravas!”. Pelotas, esse paradoxo entre tanta coisa latente, é também terra da resistência do movimento hip hop que cresce nas periferias e reúne mais de 1000 pessoas em shows de guris de vinte e poucos anos em praças centrais. Genialidades como a de um escultor analfabeto que dá ensinamentos para acadêmicos e pesquisadores de artes, não fazem parte ainda das Salas de Arte, mas existem em vivências diárias nos bairros e no centro. Pelotas, terra do choro grandioso de Avendano e seus companheiros. Pelotas é também terra de instrumentos exóticos e ancestrais, criados e tocados por M. Batista, Giba-Giba e Dilermando, como o tambor de sopapo, elo com a África. Pelotas, sede antiga do Carnaval popular de rua lá de décadas atrás, – no tempo em que nosso Carnaval não era privatizado e tinha o reconhecimento de um dos mais procurados do País.

Pelotas grita e silencia. Pelotas às vezes é fora quando quer ficar dentro de algo só. Pelotas é cênica, bailarina e cinematográfica. Tem também reggae, samba, jazz, blues, rock underground, boemia, escritores colocando a boca no trombone, através de sua arte, gente diferente escondida, precisando ser vista por uma perspectiva mais ‘somos além de uma estética estabelecida’. E Pelotas é também clown: Tem Teatro do Oprimido e palhaços espalhados fazendo arte na frente de um Teatro fechado.

Ediane Oliveira é jornalista. Produz o Programa Navegando RádioCom e faz parte da Maria Bonita Comunicação.

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